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Diana Tang e a Escola Jiuyi no Brasil

Como a primeira escola de guqin chegou ao Brasil



// Diana estudando em minha sala de estudos na Vila Mariana.


No Templo Tzong Kwan


Em agosto de 2019 soube através do abade do Templo Tzong Venerável Mestre Zhihan da vinda a São Paulo de uma célebre musicista de Vancouver, Canadá, Diana Tang, mestra em Guqin. Reservei uma semana em minha agenda para recebê-la, e peguei a ponte área Brasília-São Paulo na data exata de sua chegada, 22 de agosto.


Sua vinda foi planejada alguns meses antes pelo Sangha da comunidade budista, de modo que ela ficaria hospedada nas depedências para visitantes do templo, onde eu tenho a minha sala de estudo e ensaios de música, visto ser voluntário e professor na comunidade a cerca de 20 anos.


Cheguei no templo ansioso por conhecê-la, e a encontrei na recepção de longo chinês. Alta, de porte nobre e elegante, convidou-me para sentar-se a mesa, onde tomava um chá com algumas pessoas que a acompanharam durante a viagem de Vancouver a São Paulo. Simpatizei imediatamente com ela. De uma fala suave, e muito gentil, nos entrosamos rapidamente, enquanto ela me mostrava uma prova do livro de sua vida "The Way of Guqin".


Redigido com base a em 30 anos de experiência musical de ensino e perfomance de guqin, seu livro traz uma rica introdução sobre a história do qin e um compêndio considerável de peças clássicas transcritas em três sistemas de notação jianzipu 減字譜 (notação reduzida), jianpu 簡譜 (notação numérica) e notação clássica europeia. Algo inédito na literatura moderna do Qin, visto grande parte adotar uma ou outra forma de escrita, quando muito duas (Jianzipu e Jianpu).


Foi muito gostoso ter sido presenteado com a prova de seu livro de tamanho A3, com prefácio de Alan Thrasher, etnomusicólogo canadense, cujo trabalho sobre a música do Sul da China me inspira há alguns anos. Falamos sobre isso, e nos demos muito bem nessas coincidências.


No período em que ficou hospedada no Templo Tzong Kwan oferecei a minha sala de estudos para sua prática pessoal, e foi uma rara oportunidade assistir de perto o cotidano de uma instrumentista tão qualificada.


Havíamos programado uma palestra concerto no Departamento de Música da USP para o dia seguinte (23 de agosto), uma sexta-feira, que organizei através POEM Poéticas Orientais e Música, grupo de pesquisa que coordeno, vinculado ao meu pós-doutorado em música.



// entrega oficial da prova do livro "The Way of Guqin".


Nesse mesmo dia da chegada, um dia antes da palestra concerto na USP e apresentações, publiquei esse texto no FB >



"Assim que cheguei em São Paulo conheci a Diana. Ela é muito simpática, e tem um estilo curioso de tocar Qin. As mãos são bem soltas, desenham a sonoridade em cima das cordas. Quase parece que está tocando muito pouco.
E daí lembrei de algo bastante significativo dentro da filosofia prática do Qin: a personalidade do intérprete se molda de tal maneira ao instrumento o que não se pode dizer que sejam as mesmas músicas sendo tocadas por aí. Não se trata de diferentes versões para uma mesma peça musical, segundo a interpretação de cada músico, mas as músicas resultantes diferem entre si.
É uma concepção estranha à tradição ocidental que prioriza a fidelidade interpretativa quanto às peças musicais clássicas. No Qin as músicas assumem a forma da expressão da personalidade de cada músico. E nós só podemos dizer que os nomes e as tablaturas sejam os mesmos. Mas a música brota de maneiras muito diferentes em cada um de nós. Num resumo, trata-se da filosofia do Dapu, ou da recriação das músicas saídas das tablaturas.
O cerne dessa produção de singularidades musicais se deve a recepção interna do tempo musical solto de amarras. Se existe um bit temporal soando ao fundo é apenas para nos lembrar de que devemos nos desviar de sua clausura."


Palestra Concerto no Departamento de Música da USP/CMU


A palestra sumarizou os principais pontos históricos do desenvolvimento da arte o qin, segundo a cronologia oficial em dinastias, partindo da dinastia Zhou (690-705 ac.) até a fundação da República da China em 1912.


Natural de Hong Kong, cuja família emigrara para o Canadá ao início dos anos difíceis da Revolução Cultural (1966-76), Diana fez alguma crítica ao estado da arte na atualidade. A palestra culminou com um recital misto, dela com a peça Guan Shan Yue 关山月, de sua aluna interpretando Wen Wang Cao文王操 (1491), e Victor Pádua com Shenren Chang 神人暢 (1525), aliás, peça muito cultuada pela Zi De Qin Society de Shanghai, onde Victor estudou com Bai Wuxia 白无瑕.


A classe estava cheia de alunos do primeiro e segundo ano de música, grande parte da turma de contraponto do professor Dr. Paulo de Tarso.


// alunos de graduação em música do departamento de música da USP.


Agenda no Brasil pela Associação Guqin Brasil


No sábado 24 de janeiro Diana deu uma masterclass pela Associação Guqin Brasil 巴西古琴協會 no Templo Tzong Kwan, onde participaram três dos cinco co-fundadores da associação com apresentações de peças: Eu, Victor Pádua e Juliana Wu. A ocasião contou com a presença de Juliana Amoreira (co-fundadora) e Cintia Harumi, pesquisadora, integrante do Ensemble Gaoshan Liushui, que coletava dados em entrevistas para o seu mestrado em etnomusicologia no CMU/USP, sendo a Associação Guqin Brasil um de seus objetos de pesquisa.


// foto histórica na frente da Escola de Comunicação e Artes ECA/USP


Ensaio com o Ensemble Gaoshan Liushui


A noite do sábado 24 tivemos ainda um ensaio conjunto com Ensemble Gaoshan Liushui, onde Diana participou com o qugin, interpretando a Canção do Enterro das Flores (葬花吟) do compositor Wánglìpíng 王立平 (1941 – ), com a participação da soprano Marília Vargas e o erhuísta (violinista) Alfredo Rezende.


// Ensaio com músicos do Ensemble Gaoshan Liushui



// Diana e Marília Vargas


Diana Tang e a Escola Jiuyi


Diana Tang é representante da Escola Jiuyi de guqin, cuja figura central atualmente é Qiáo shan 乔珊, instrumentista de Beijing que foi aluna de Wáng Dí 王迪 (1923-2005), e esta, por sua vez, teve por mestre o célebre instrumentista Guan Pínghú 管平湖 (1897-1967).


Cabe notar que a representatividade dessa escola na atualidade é feminina, e o que deve ser levado em conta é justamente a sua poética original baseada na elegância e retidão em conexão a escola Guanling San. De Wang Di, Qiao Shan a Diana Tang (cujo nome chinês é 湯月明 Tang Yuèmíng) temos uma tríade feminina de grande impacto na difusão da arte do Qin na atualidade. As três personalidades se confluem em torno de ideias semelhantes e complementares.


(em breve a continuação dessa parta voltada a análise da escola Jiuyi)



// Qiao Shan ao qin




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