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Repertório Clássico para Qin

Das coisas mais importantes na construção da identidade artística está o encontro com nascente de nossos ideais. É como se percorrêssemos um longo e sinuoso caminho a partir de uma centelha avistada de muito longe, e a passos lentos finamente chegássemos lá.



// na foto Mestre Yuan Jung Ping prepara o seu Qin (fabricado por ele) num suporte baixo para me apresentar peças clássicas do repertório


história


Foi em dezembro de 2018 que esse encontro aconteceu quando entrei no Taipei Qin Hall, onde conheci Mestre Yuan Jung Ping com quem passei uma tarde iluminada — entre luzes e sombras — observando as pinceladas no Qin e nos longos tecidos de caligrafia feitas pela mesma mão, à mostra na casa.


Já conhecia suas performances do repertório clássico a uma década pelos videos postados no YouTube. E disso formei uma imagem 'mediática' como muitos o fazem. Essa é uma característica da era digital: videos, imagens, fotos no Instagram configuram uma apresentação superficial da pessoa artístico; em nada substitui o encontro ao vivo.


Dessa tarde que passamos juntos conheci de perto o seu trabalho de estudo detalhado sobre o repertório musical para Qin, e na recuperação dos antigos tratados e tablaturas da música. E assim, pude me abastecer de referências sólidas para o crescimento artístico, pessoal a institucional, através da Associação Guqin Brasil.



Passados dois anos e meio da formação da associação (a primeira do Brasil), contamos com o fortalecimento deste laço inicial, agora suportado pelo Taipei Qin Hall que irá fornecer os subsídios espirituais e materiais de nossa prática nascente.


Bons ventos em tempos tão duvidosos!


Gravações


Mestre Yuan Jung Ping vem gravando ano a ano os clássicos do repertório. Nesse link a peça « Shíshàng Liúquán 石上流泉 » e que consta no manual de Qin « Shénqí mì pu 神奇秘譜 » de 1425. A recomposição das linhas e a rítmica bem reestabelecida com ornamentos límpidos conferem à peça um caráter leve e fluído.


A história da descoberta desse manual no século XX gerou muito alvoroço em torno da prática musical, devido a coletânea de peças aí compiladas, e pelo fato de vir com um ensaio introdutório de « Zhu Quán 朱權 (1378 - 1448) », filho do primeiro imperador Ming, um grande estudioso do Qin e responsável por grande parte da preservação dessa arte.


Refletindo a história desse achado optei por traduzir o título do manual 神奇秘譜 como « Manual Oculto dos Mistérios Maravilhosos », e a peça aqui referida 石上流泉 como « Primavera flui entre os seixos » para simbolizar o fino córrego que ela evoca. Vale notar que a versão inglesa corrente é "Handbook of Spiritual and Marvelous Mysteries" (Manual dos Mistérios Maravilhosos e Espirituais). Entretanto, preservei a conotação mágica que envolve esse cânone, trazendo à tona o sentido de 'inefável, indevassável', e por isso é preferível o termo "oculto" (奇) ao início.


Boa Escuta!



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